Entendendo o EMDR
Por Daltro Feil
Iniciar uma terapia como o EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares) pode gerar muitas questões. É natural querer entender como esse processo funciona e de que forma pode ajudar a aliviar o peso de memórias difíceis ou experiências traumáticas. Este artigo foi pensado para você, que está iniciando ou considerando esta jornada terapêutica, oferecendo uma visão clara e acessível sobre os princípios por trás do EMDR.
Nosso Cérebro: um sistema inteligente de processamento
Imagine o seu cérebro como um sistema incrivelmente inteligente, processando constantemente as informações e experiências do dia a dia. Ele tem uma capacidade natural para "digerir" o que nos acontece, aprender com as situações e guardar as memórias de uma forma útil para o futuro.
Pense nisso como organizar arquivos importantes em uma biblioteca: as experiências são catalogadas e armazenadas de forma que possamos acessá-las mais tarde, retirando lições e compreensão. Esse processo natural e adaptativo nos permite seguir em frente, utilizando o passado construtivamente. A teoria que explica essa capacidade chama-se Modelo de Processamento Adaptativo de Informação (PAI).
Quando as experiências ficam "presas"
No entanto, às vezes, vivemos situações tão intensas, assustadoras ou dolorosas – o que comumente chamamos de trauma – que esse sistema natural de processamento fica sobrecarregado. É como se um arquivo muito pesado ou complexo bloqueasse o sistema de organização da biblioteca. A experiência não é processada e arquivada corretamente. Em vez disso, fica "presa" em nosso sistema nervoso, mantendo a carga emocional, as sensações físicas e as crenças negativas originais.
Quando isso acontece, a memória dessa experiência pode invadir o presente de formas inesperadas e perturbadoras. Pode surgir na forma de pesadelos, flashbacks (sentir que está revivendo a situação), pensamentos intrusivos, ansiedade intensa, medos inexplicáveis ou uma sensação constante de alerta. É como se o passado não ficasse no passado, continuando a afetar o seu bem-estar e a sua forma de ver o mundo e a si mesmo. Esses são sintomas frequentemente associados ao Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), mas também podem surgir após outras experiências difíceis.
EMDR: ajudando o cérebro a retomar o processamento
É aqui que entra a terapia EMDR. O EMDR é uma abordagem terapêutica estruturada que visa auxiliar o seu cérebro a retomar o processo natural de cura e a "digerir" essas memórias que ficaram presas.
Como isso acontece? Durante uma sessão de EMDR, o terapeuta guia o paciente de forma segura para que ele acesse brevemente a memória perturbadora – somente o suficiente para ativar a informação que ficou bloqueada.
Enquanto o sujeito mantém essa memória em mente, o terapeuta introduz um estímulo bilateral. Esse estímulo pode ser visual (seguir os dedos do terapeuta com os olhos ou uma bolinha que vai e vem na tela que é projetada), tátil (toques alternados nas mãos ou joelhos) ou auditivo (sons alternados nos ouvidos). Esse processo de atenção dupla – focar na memória e no estímulo externo – facilita a comunicação entre diferentes partes do cérebro, ajudando-o a processar a informação de uma forma nova e mais adaptativa.
O caminho para a integração
Pense no processo de cura de uma ferida física. Se a ferida estiver limpa, o corpo sabe exatamente o que fazer para cicatrizá-la. Mas se houver algo bloqueando a cicatrização, como uma infecção ou um corpo estranho, o processo é interrompido. A cura só pode continuar quando esse bloqueio é removido. Semelhantemente, o EMDR ajuda a remover os bloqueios que impedem o processamento natural da memória traumática.
À medida que o processamento ocorre durante as sessões de EMDR, a memória começa a perder sua carga emocional negativa. As imagens podem se tornar menos vívidas, as sensações corporais desconfortáveis diminuem e as crenças negativas sobre si mesmo ("sou culpado", "estou em perigo", "não tenho valor") podem ser substituídas por outras mais positivas e realistas ("eu fiz o melhor que pude", "estou seguro agora", "eu sou capaz"). A memória não desaparece, mas se transforma. Passa a ser vista como algo que aconteceu no passado, mas que não te define mais nem controla o seu presente.
Transformando o passado, construindo o futuro
Muitas pessoas que passam pelo processo de EMDR relatam sentir um grande alívio, uma diminuição significativa dos sintomas perturbadores e um aumento da autoestima e da confiança. A terapia permite integrar as experiências difíceis de uma forma saudável, transformando a dor em aprendizado e força.
O EMDR, apoiado nos princípios do Processamento Adaptativo de Informação (PAI), oferece um caminho promissor para a recuperação. É uma jornada colaborativa entre paciente e terapeuta, focada em ativar a capacidade inata do cérebro para encontrar um maior bem-estar e qualidade de vida.
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